Coordenadora pedagógica do Miraflores diz que vai ser preciso amplo trabalho para recuperar perdas que crianças tiveram no período
Por Silvia Fonseca

Branca Portes com alunos do Miraflores. Foto: Divulgação
Coordenadora pedagógica do Miraflores, Branca Portes costuma entrar nas salas de aula virtuais que o colégio tem dado durante a pandemia de Covid-19 para acompanhar o desempenho de alunos e professores. Numa dessas aulas, Branca viu um aluno, em sua casa, mas conectado com os colegas, levantar o braço e pedir: “Professora, posso ir beber água?” Foi mais um sinal de que os estudantes de fato entram no clima escolar com as aulas remotas.
Mas o aprendizado seria completo com o ensino remoto, autorizado e utilizado excepcionalmente em casos de emergências como uma pandemia? A educadora acha que não:
- Nada substitui a aula presencial. Há a parte social, a parte emocional, afetiva, tudo isso faz parte do ensino também. O convívio social dentro da escola, na sala de aula, no recreio, tudo isso é aprendizado.
Esse debate mobiliza educadores no país e no mundo, à medida que as escolas têm recorrido a aulas on-line durante o isolamento para manter os vínculos e passar conteúdo para seus alunos. Como muitos especialistas, Branca não esconde a preocupação com as perdas que estudantes estão sofrendo com o necessário isolamento social. Ela diz que, no retorno às aulas presenciais, quando a retomada for autorizada pelas autoridades sanitárias, a escola fará uma avaliação diagnóstica das perdas de conteúdo para futura reposição.
- Mas há também perdas sociais, emocionais, vamos tentar recuperar...
A educadora cita três grandes aprendizados da utilização das aulas remotas emergenciais neste período de isolamento:
- O primeiro: lidar melhor com tecnologia, enfrentar uma linguagem nova, um tempo diferente. Segundo, planejar sabendo que não tem o seu aluno ali, olho no olho, e que você tem de atingir o aluno na casa dele. Terceiro, é preciso destacar o essencial de cada conteúdo, o fundamental, ao passar o conteúdo por meios virtuais, com o aluno em casa.
No caso do Miraflores, a escola de Icaraí, na Rua Ministro Otávio Kelly, usou as duas últimas semanas de março, com o decreto do isolamento social já em vigor em Niterói, para que todos pudessem se adaptar.
- Trouxemos o recesso de julho para março. Precisávamos desse tempo para as famílias e os professores se adaptarem. Preparamos os professores, primeiro fizemos aulas gravadas em vídeos. Hoje já está tudo on-line, até a Educação Infantil. Fomos gradativamente - diz Branca.
Como o engajamento depende muito também da faixa etária e da maturidade de crianças e jovens, do sexto ano do Ensino Fundamental ao ensino Médio foi mais rápido, com parte do conteúdo pré-gravado e parte on-line, com professores. Do primeiro ao quinto ano, porém, demorou um pouco mais.
A diferença de um segmento para o outro, no caso da estratégia de ensino on-line adotada pelo Miraflores, é o tempo de aula. Do primeiro ao quinto ano, são três horas por dia, quando o normal é aula de quatro horas e meia. Na Educação Infantil, uma hora por dia. E a educadora faz questão de ressaltar o valor que dá à aula presencial:
- O professor dá a aula, o aluno tira suas dúvidas, o aprendizado acontece on-line, mas não na mesma intensidade.